greve dos caminhoneiros, que entrou em seu 4º dia nesta quinta-feira
(24), causa problemas de abastecimento e impactos na produção. Veja
abaixo os principais setores impactados pela paralisação que afeta todo o
país.
Desabastecimento de perecíveis
A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) informa que há
desabastecimento de produtos perecíveis nos estados de Mato Grosso, Mato
Grosso do Sul, Pará, Paraíba, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Ceará,
Espírito Santo, Pernambuco, Tocantins, Santa Catarina, Paraná e São
Paulo. Em relação aos produtos não perecíveis, os estabelecimentos
possuem um estoque médio de produtos não perecíveis e, por enquanto,
ainda não há problemas.
Há supermercados que estão limitando o número de unidades a serem compradas.
De acordo com as empresas associadas à Associação Brasileira das
Indústrias da Alimentação (Abia), são mais de 315 caminhões com
alimentos perecíveis parados em estradas de Minas Gerais, Goiás,
Distrito Federal, Tocantins, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro.
Ainda não há levantamento completo dos prejuízos, mas apenas uma das
empresas associadas relata mais de 1.100 toneladas de produtos não
entregues a clientes, que significariam perdas em torno de R$ 3 milhões.
Segundo a Abia, também há impacto na produção, cortada por falta de
leite que, não sendo captado nas fazendas, terá que ser descartado. Em
Barra Mansa e cidades próximas no sul do Rio de Janeiro, aproximadamente
130 mil litros de leite estão sendo descartados por dia. Cerca de 530 produtores em um raio de 150 km estão passando pelo problema desde terça-feira (22).
Outra empresa apontou perdas de toneladas de pão fresco, paralisação de
fábricas por falta de espaço para estocar produtos e desabastecimento
de matérias-primas, segundo a associação.
Produtos mais caros
De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), é possível
identificar alta nos preços dos produtos comercializados no atacado nas
Ceasas do país.
No Rio de Janeiro, a batata, por exemplo, passou de R$ 1,30 na última
sexta feira para R$ 5,60 na quarta-feira (23). Já em Recife, o mesmo
produto era vendido no atacado a R$ 1,80 no dia 18 e nesta quinta-feira
(24) já está em R$ 7. A alta da batata se repete também em Mato Grosso
do Sul (R$ 1,70 na sexta e nesta quinta em R$ 5), Minas Gerais (1,40 no
dia 18 e 3,60 na quarta) e São Paulo (1,84 no dia 18 e 2,70 na
terça-feira, 22). Para a Conab, esse comportamento permite inferir que
há menos produto no mercado.
Frigoríficos parados
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) informou que a cadeia
produtiva da avicultura e da suinocultura do país iniciou esta
quinta-feira com 120 plantas frigoríficas paradas – produtoras de carne
de frango, perus, suínos e outros.
Mais de 175 mil trabalhadores estão com atividades suspensas em todo o país.
A entidade denuncia ainda que não houve a liberação das cargas vivas em
vários pontos de parada do movimento de greve nas estradas, pois diz
que recebeu relatos de produtores com caminhões transportando animais
parados em bloqueios em todo o país e que haveria casos de animais com
mais de 50 horas sem alimentação.
Também está travada em vários pontos a circulação de caminhões de
ração, que levariam alimentos para os criatórios espalhados por pequenas
propriedades dos polos de produção. A ABPA afirma que a situação nas
granjas produtoras é gravíssima, com falta de insumos e risco iminente
de fome para os animais.
Para a entidade, os danos ao sistema produtivo são graves e demandarão
semanas até que se restabeleça o ritmo normal em algumas unidades
produtoras.
Montadoras paradas
A Anfavea informou que todas as montadoras de veículos no Brasil
estarão com suas linhas de produção paradas a partir desta sexta-feira
(25). Em nota, a entidade informou que a "a greve dos caminhoneiros
afetará significativamente nossos resultados tanto para as vendas,
quanto para a fabricação e exportação."
Por dia, em impostos, a indústria automobilística é responsável pela arrecadação de R$ 250 milhões.
Gás de cozinha
O Sindigás informou que há dificuldades na distribuição de gás de
cozinha em botijão e a granel (encanado) em Goiânia e no Distrito
Federal.
Correios
Os Correios informaram que estão temporariamente suspensas as postagens
das encomendas com dia e hora marcados (Sedex 10, 12 e Hoje).
As postagens de Sedex e PAC continuam sendo aceitas, no entanto,
enquanto perdurarem os efeitos da greve, haverá o acréscimo de 5 dias
úteis no prazo de entrega dessas encomendas, bem como das
correspondências.
Essa ampliação dos prazos de entrega aplica-se também a todas as
modalidades de serviço internacional, malote, carta, FAC, impresso, mala
direta, Correios Entrega Direta e Remessas Econômica/Expressa.
Com relação à entrega pelos carteiros, a empresa esclarece que está
ocorrendo normalmente para objetos que já se encontravam nos centros de
distribuição. Quanto aos objetos em trânsito ou que estavam na origem
quando a greve se iniciou, ainda não é possível mensurar, com precisão, o
tempo de atraso, pois dependerá do período que durar a paralisação dos
caminhoneiros.
Em todo o país, não foram entregues 34% das encomendas e 27% das
correspondências previstas para quarta-feira (23), porque não foi
possível a chegada dos caminhões dos Correios ao seu destino.
A ECT informou que tão logo a situação do tráfego nas rodovias retorne à
normalidade, a empresa reforçará os processos operacionais para
regularizar as entregas.
Comércio eletrônico
A Ebit estima uma perda no faturamento do setor de R$ 280 milhões por
causa da greve dos motoristas. A expectativa inicial era de um
faturamento de R$ 4,58 bilhões, que foi reduzido a R$ 4,30 bilhões. A
entidade também reduziu em 7,4 pontos percentuais a expectativa de
crescimento do setor em maio, de 20,7% para 13,3%, na comparação com o
mesmo período do ano passado.
A Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm) informa que a
greve afeta o trânsito de diversas transportadoras. "Já temos relatos de
diversas empresas de logística com objetos parados em diferentes locais
do Brasil. Diversos atrasos na entrega de mercadorias já são
registrados e há um forte aumento de custos logísticos com reprogramação
dessas encomendas. Os prejuízos para o setor, para os consumidores e
para o país são incalculáveis”, afirma Mauricio Salvador, presidente da
ABComm.
A ABComm teme pela proximidade do Dia dos Namorados, no qual muitos
consumidores optam por realizar compras pela internet. A entidade estima
que mais de 8 milhões de pedidos sejam realizados para a data.
Combustíveis
Em razão da greve dos caminhoneiros que paralisaram o transporte e o
consequente bloqueio nas bases de distribuição, o abastecimento nos
postos do país está comprometido.
A falta de gasolina e diesel em alguns estabelecimentos gera mais
movimento nos postos e, com o aumento da demanda, o estoque pode se
esgotar antes do previsto – entre sexta-feira e sábado, segundo a
Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes
(Fecombustíveis).
Balanço da entidade informa que a situação está crítica, principalmente
na cidade do Rio de Janeiro, em que a frota de ônibus foi reduzida pela
falta de diesel, e vários postos estão ficando sem combustível.
Em algumas cidades, como em Santos, no litoral de São Paulo, vários
postos têm estoque até esta quinta-feira ou no máximo até sexta-feira.
No Rio Grande do Sul, o desabastecimento está generalizado em várias
cidades. Em Salvador, na Bahia, também começa a faltar combustíveis e os
postos estão com filas enormes.
Em Mato Grosso, na Grande Cuiabá, alguns revendedores informaram que
ainda nesta quinta o estoque pode se esgotar. Há ainda confirmações de
postos sem produtos em Tapurah, Primavera do Leste, Nova Xavantina,
Diamantino e Juína.
Remédios são afetados
Segundo a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias
(Abrafarma), a greve dos caminhoneiros está abalando o abastecimento de
farmácias e drogarias de todo o país. A entidade afirma que 6,3 milhões
de estabelecimentos estão deixando de ser abastecidos diariamente, com
impacto de 2,4 milhões de consumidores.
“Um dos principais problemas referem-se aos medicamentos termolábeis,
que devem ser mantidos refrigerados e necessitam de temperatura estável
até o seu destino final – algo impossível de ser garantido com um
veículo travado nas estradas”, disse a instituição, em nota.